27/02/09

Serei só eu?

Alguma alma me pode explicar porque razão só os homens usam óculos nas recepções? Eu olho para as revistas, eu olho nos restaurantes, eu olho na televisão, eu olho e vejo porque tenho óculos, ou como diz o meu oculista "óculo". Sim, porque eu não compro em qualquer sítio e tirando a boutique em frente à praia , vulgo Dona Maria, frequento casas de rigor onde as palavras contam e em que as malas são carteiras e os óculos são óculo de preferência de sol, apesar das notas serem todas notas ou money. E nestes sítios não existem supermercados mas lojas gourmet e também ninguém vai ao lugar da fruta e também não há sombrinhas e nêsperas são magnórios. Ah estava-me a esquecer que ninguém conhece peros, aqui só há maçãs.
Eu sei que podemos usar lentes mas o contacto com elas tem de ser como um casamento. Ou dá ou não dá. Também sei que podemos usar uma lente num olho só, e podemos fazer de conta que estamos a comer pouco por não ter fome, mas na verdade temos é falta de visão. Também sei que podemos ter as lentes para ver tudinho e usar óculos para trabalhar. Mas o problema é que se não usarmos os óculos não vemos nada ao perto. E deve ser por isso que ninguém usa para não ver, não comprar e não comer. Por isso é que somos um país de gente feliz. Agora uma coisa eu digo, uma pessoa não ver um gajo giro é um desperdício, não ver para poder contar não tem graça. E essa dos homens poderem ver tudo e as senhoras quererem ter todas olhos de lince quando na verdade são toupeiras é que não tem piada nenhuma. Portanto, eu continuo com óculo e apesar de já me escapar muito coisinha, prefiro que seja assim e os de sol são graduados daqueles que só dá para conduzir e desviar o olhar sem ferimentos. Devo confessar que às vezes o interior das lojas me parece muito escuro e também tenho uma luta com o meu médico que me diz para comprar uma lupa se quero ver melhor. E já agora, porque é que os hotéis se esquecem de colocar os espelhos de aumento nas casas de banho?

Este país não é para nós

Decidamente é verdade, nem este país é para nós nem nós somos feitos para o frio. E é uma pena porque a conjugação é perfeita e teria tudo para ficar bem. A semana tem estado prazenteira, o sol aquece o corpo e as águas da Baía já têm o movimento do Verão. Apenas a cor continua a assumir que é apenas a Primavera que espreita. Na praia algumas pessoas aproveitam a pausa do almoço, apenas um ente masculino tem a coragem de estender a toalha e apanhar o sol no corpo despido. A maioria continua preparada para embarcar para o Polo Norte, com grandes casacos, camisolas e golas altas. Ninguém se atreve a por o pé na água, inclusive eu, que normalmente iria "ver como está a água". Quem me conhece sabe que não aguento mais de quinze minutos sem entrar na água e que para mim praia sem água não é praia. É quase como lavar a cara em água quente, um absurdo. Mas o que nos torna absurdos é que não temos tempo, nem dinheiro nem feitio para aproveitar o clima que este país nos proporciona. E também porque temos de trabalhar e não podemos ir de férias quando nos dá na telha, e porque o país está em estado de crise.
E o absurdo continua porque nem os escandinavos utilizam o nosso tempo e nós que não fomos feitos para o frio andamos atrás do que não temos e não usamos o que é nosso. Não digo que uns dias de frio não sejam agradáveis e que a neve nos alicie e que o desporto seja revigorante e que as bochechas vermelhas e as orelhas a cair não nos parecem aventuras interessantes.
Este país que não é aproveitado pelos portugueses, devia ser promovido com os nossos produtos, as nossas gentes, a nossa cultura, as nossas excentricidades, as nossas características. Nós devíamos gostar muito do nosso país e por um tempo esquecer que o país não são meia dúzia de escândalos, porque todos os países os têm. Um país mede-se pela força e pela coragem de acreditar que somos capazes. Um país são famílias, todas têm as suas crises e as suas glórias, o primo taralhoco, o tio ou a tia com passado duvidoso, mas ninguém anda a falar no assunto fora do cerco e da intimidade familiar e não quer com isso dizer que seja assunto a esconder, apenas que não temos de aborrecer os outros com detalhes a despropósito. Claro, que se contarmos a nossa história picante, o clima torna-se mais propicio a que outro nos conte o seu problema. Mas o facto de não estarmos sozinhos na desgraça e de não sermos únicos na tragédia, não quer dizer que não se faça alguma coisa para mudar. Daí que mesmo que a crise seja internacional, mundial e outros tal, não podemos ficar conformados e confortados com a semelhança dos casos. E também não é altura para nos regozijarmos da desgraça alheia ou de dizermos que vamos aprender com o que o que outros fizeram de errado. É que muitas vezes não fizeram errado, apenas nada fizeram!

26/02/09

Aqui há gato!


A Luísa, desafia-me a confessar seis factos verdadeiros, mesmo que semi ficcionados, da minha vida real e três outros desejos completamente improváveis, mas que eu teria gostado de ter vivido.

1- Sou dona de um banco e de uma caixa. Mas invisto no porquinho mealheiro.

2- Um dia um "Ministro sem pasta" pediu-me para lhe comprar uma para os dentes.

3- No St.Christopher's Inn partilhei um quarto com desconhecidos. Fiquei com a chave do quarto desactivada, tive de ir com "roupa menor" e toalha ao ombro à recepção. A recepção ficava no exterior e a um quarteirão de distância.

4- Fui casada com um estudante, depois com um professor, de seguida com um polémico articulista, finalmente com um financeiro. Hoje estou casada com todos eles e com um filósofo de ideias fixas.

5- Numa viagem Londres - Porto, perdi três táxis, uma estação de metro, dois combóios e um avião.

6- Comemorei as bodas de prata no MGM de Las Vegas.

7- A primeira vez que dormi num hostal e partilhei o quarto com desconhecidos foi em 2008.

8- Em 1972, participei no Festival RTP da Canção.

9- Sou arquitecta de profissão, médica e economista em pensamento.

Para todos nós

Para todas nós

23/02/09

Penélope Cruz

"Has anybody ever fainted here? I might be the first one."
Best Supporting Actress in Vicky Cristina Barcelona

21/02/09

Sangue Latino

Sangue Latino Ney Matogrosso
Composição: João Ricardo / Paulinho Mendonça


Jurei mentiras
E sigo sozinho
Assumo os pecados
Uh! Uh! Uh! Uh!...

Os ventos do norte
Não movem moinhos
E o que me resta
É só um gemido...

Minha vida, meus mortos
Meus caminhos tortos
Meu Sangue Latino
Uh! Uh! Uh! Uh!
Minh'alma cativa...

Rompi tratados
Traí os ritos
Quebrei a lança
Lancei no espaço
Um grito, um desabafo...

E o que me importa
É não estar vencido
Minha vida, meus mortos
Meus caminhos tortos
Meu Sangue Latino
Minh'alma cativa...

"Um grito,um desabafo"

"Este livro não pretende ser uma reflexão cinzenta sobre os problemas da saúde em Portugal. É antes, como diz Ney Matogrosso numa das suas canções, "um grito, um desabafo". Um grito de alarme, porque a situação actual é verdadeiramente critica e um desabafo pelas dificuldades diárias que confrontamos. Ainda e talvez mais importante, um desafio a que se pensem os problemas da saúde de forma diferente."
(Joaquim Sá Couto, Medicina Ilegal, Edições Vida Económica, 2001)

Da Blogosfera


Um slogan por semana no Senhor Luís.
Ontem lembrei-me desta música no Ma-Schamba e eu desta letra e deste cantor.
O Carnaval começa hoje!


20/02/09

Tripeiros

Insisto, ver o país dentro dum quartinho é o nosso problema! E por isso, gostava que me explicassem o que é isso de ser tripeiro. Eu conheço "O Tripeiro" revista fundada em 1908 e propriedade da Associação Comercial do Porto, que traduz o que é ser a burguesia do Porto, quem são os nomes e as elites da cidade, o que deixaram e construiram, mas não vejo o que é que isso tem a ver com o ser tripeiro e de não ter vergonha de ter nascido no Porto. É claro, que eu compreendo bem o Rui Moreira, quando há tempos falava no seu avô homem de Lisboa que se instalou no Porto, e também sei porque razão ele é visto como um cosmopolita na cidade, apesar de se sentir tão tripeiro, que até edita "O Tripeiro"e até há quem o considere demasiado elitista. Compreendo igualmente que a cidade tem de estar ao nível de outras cidades, mas a questão é saber como medimos a grandeza duma cidade. Pela qualidade das suas gentes, pela qualidade dos restaurantes e saídas nocturnas, pela beleza das mulheres e qualidade dos sapatos dos homens, pela natureza das empresas, pela riqueza do património, pela classe dos seus representantes, pelas instituições, pelo reconhecimento nacional e internacional? É por tudo isto ou é apenas por ter nascido no Porto, ser do FCP e usar cachecol, vir de avião assistir à bola mesmo que se viva a 2000 km, ter um programa pessoal bem arranjado e animado há anos por amizades colaborantes que saltam para a ribalta no momento adequado? Vamos ver quem é que é mais tripeiro e quem é que corre pela cidadania e pelo sentido cívico nacional. De quartinhos regionais não precisamos e esse comboio já mudou de estação, enquanto os potenciais vendedores andaram a ver a bola e a fazer pela vida noutras paragens.

O Arrojo do negócio

Há dias o Avelino arreliado dizia que os centros de formação estavam a patrocinar cursos para cabeleireiras e que o país ia vender caracóis. Eu própria comentei aqui que o nosso homem de Guimarães tinha razão porque um salão de cabeleireiro se podia fazer num quartinho lá de casa. Ver o país dentro dum quartinho tem sido o problema nacional, praticamente, desde que existimos. Tirando pequenas referências históricas, sempre nos vimos pequenos, feios e atarracados, mesmo que alguns nos venham falar nos descobrimentos, da grandeza da nação e na pujança do passado. Escritores e artistas de várias áreas, sempre tivemos em quantidade e qualidade suficiente. É certo, que muitos não passaram do consumo interno, mas temos muitos que saíram do quartinho e voaram para outra dimensão. Souberam passar o testemunho da alma portuguesa e do ser português e deixaram obra e nome que não tem fronteiras. A nossa tragédia foi sempre ao nível do empreendedorismo. Aí temos falhado consecutivamente, não porque não saibamos fazer, mas porque temos a vista curta e a dimensão do mar não nos deixa alcançar outros lugares sem apanhar um transporte. Por terra sempre foi difícil e por mar parecendo mais fácil só levou a que uns partissem e outros ficassem na praia a aguardar a chegada dos primeiros. Porque nós voltamos sempre, às vezes até animados, mas não somos combativos. E não sabemos tirar partido do que vemos e não conseguimos por em prática por medo de falhar, por falta de ambição, por cautela à critica, por desconfiança. Apesar de regressados acabamos por ficar com uma mão à frente e outra atrás. A da frente tapando a miséria e a de trás protegendo o corpo que o diabo amassou e do qual não soubemos fugir. Nesta fase difícil, de recuperação económica das nações, em que os modelos de crescimento estão a ser repensados e a globalização a ser posta em causa, podíamos olhar e aprender com quem já sabe, tem garra e arrisca. E em vez de criticar o marketing das ideias fazê-lo crescer de acordo com as necessidades do momento. Nem o consumidor é demasiado racional nem o marketeer irracional, pelo contrário, "a oportunidade está em mostrar ao consumidor racional que está a ser irracional (Seth Godin)" E também não há muito para descobrir, mas adaptar o que até aqui se entendia como global. Eu sei que é vira o disco e toca o mesmo para os da área, mas enquanto escolhemos a música e o aparelho, as variáveis invertem-se e quem sabe algo de novo aparece. Se não tentarmos ficamos na verdade a vender caracóis no quartinho de casa, enquanto podíamos ter o ARROJO de fazer crescer o negócio numa dimensão local mas que já provou ser inovadora, mesmo que isto aqui não seja a América nem o país Nova Iorque.

Kirk Whalum

17/02/09

"Escuta, Zé ninguém!"

Se as coisas nos chegam às mãos por alguma razão é. A minha atenção foi desviada do propósito inicial que já não sei qual era e o meu olhar caiu no livrinho de capa amarela. Está na minha biblioteca pessoal desde Agosto de 1976, foi comprado na Livraria do Diário de Notícias, no Rossio, em Lisboa e custou 60 escudos. Classificação numérica de entrada:752!
Wilhelm Reich, 6ª edição, colecção Viragem, publicado pela Dom Quixote com tradução de Maria de Fátima Bivar.

"Chamam-te “Zé Ninguém!” “Homem Comum” e, ao que dizem, começou a tua era, a “Era do Homem Comum”. Mas não és tu que o dizes, Zé Ninguém, são eles, os vice-presidentes das grandes nações, os importantes dirigentes do proletariado, os filhos da burguesia arrependidos, os homens de Estado e os filósofos. Dão-te o futuro, mas não te perguntam pelo passado.
Tu és herdeiro de um passado terrível. A tua herança queima-te as mãos, e sou eu que to digo. A verdade é que todo o médico, sapateiro, mecânico ou educador que queira trabalhar e ganhar o seu pão deve conhecer as suas limitações. Há algumas décadas, tu, Zé Ninguém, começaste a penetrar no governo da Terra. O futuro da raça humana depende, a partir de agora, da maneira como pensas e ages. Porém, nem os teus mestres nem os teus senhores te dizem como realmente pensas e és, ninguém ousa dirigir-te a única critica que te podia tornar apto a ser inabalável senhor dos teus destinos. És “livre” apenas num sentido: livre da educação que te permitiria conduzires a tua vida como te aprouvesse, acima da autocrítica..."

(excerto, da obra citada)

14/02/09

Bebo Valdés y su mundo


11/02/09

Alfredo: Afinador de Cabelos

Alfredo afina cabelos com perfeição. Às vezes tem teorias que só os cabeleireiros têm, gosta de explicar o mundo à luz não da navalha, mas do secador. Para ele tudo tem explicação racional, os ingleses não aderiram ao euro por conspiração feita com os americanos contra o resto da Europa. Se não vejamos, eles sempre estiveram juntos e as alianças não se quebram, e cá para mim, diz o meu afinador, os ingleses nunca foram muito da Europa. E é preciso não esquecer que falam a mesma língua - o inglês.

Eu gosto de ouvir as teorias de todos os afinadores, mas confesso que apesar do meu afinador de cabelos ter algumas muito estranhas, eu saio de lá sempre satisfeita. Com o cabelo e com o afinador e o resto do dia rende-me muito mais, sinto-me bela e jovial. E o mais importante é que nem vejo as rugas ... enquanto não colocar os óculos e isso só acontece quando me voltar a sentar à secretária a trabalhar, mas aí felizmente não tenho espelhos. Haja decência!

10/02/09

O ímpeto do fio de cetim em Guimarães

O Avelino Queirós esfregou as mãos de contente quando o Martins, seu vizinho, faliu. O Martins tinha 80 trabalhadoras e Queirós precisava de 10. Mas o Martins não conseguiu nenhuma e a razão está, segundo ele, no valor do subsídio de desemprego. O Queirós tem razão, pelo mesmo valor ou quase não vale a pena sair de casa. "Não encontrei quem quisesse trabalhar, minha senhora!"dizia o Avelino à Fátima Campos Ferreira.
"E o senhor já pensou em pagar mais às suas trabalhadoras?" perguntou a Fátima ao que o Queirós respondeu indignado "Mas ó minha senhora, julga que eu sou o Pai Natal?... então eu estou à beira da falência, já expliquei que se não encontrar as 10 empregadas, não consigo entregar os pares de calças e fecho no final do mês, e acha que posso pagar mais?".
Ora bem, depois dos aplausos da plateia ao empresário corajoso da Fio de Cetim, falou Alberto Figueiredo o empresário de sucesso da Impetus. Com um discurso totalmente diferente mostrando que "uma parte da crise é psicológica" e que os empresários têm de estar nalguns lugares mesmo que isso não dê ganho imediato, procurou dizer que a estratégia de entrada em novos mercados implica riscos e custos.
Estamos todos de acordo com esta visão, só que o problema é que o Avelino Queirós representa a grande fasquia dos empresários do têxtil, que apenas utilizou, se é que o fez, os subsídios comunitários para comprar máquinas, mas continua a ter encomendas a feitio. As mulheres que anteriormente recebiam moldes e apenas coziam, continuam a fazer o mesmo apenas em máquinas mais sofisticadas.
O empresário se não tiver o número de trabalhadores que necessita não dá conta à encomenda das calças, ou camisas, ou saias e não cumprindo os prazos de entrega não há mais encomendas. E o empresário também não pode pagar mais às suas trabalhadoras porque não terá preços competitivos para o cliente. O empresário típico de Guimarães, Paços de Ferreira, ou outro qualquer lugar do Norte de Portugal, não pode fazer mais. E o mais grave é exactamente o que o Avelino Queirós dizia "há subsídios e cursos para cabeleireiras, nós agora vamos exportar caracóis".
Claro que o Avelino é bom homem e não é tão tosco como fazia parecer, porque sabe que os últimos dinheiros do QREN (Quadro de Referência Estratégico Nacional) estão prioritariamente vocacionados para os Programas Potencial Humano que na prática quer dizer formar e subsidiar pessoas e as mulheres em primeiro lugar, a criar o seu próprio emprego. Ora, um cabeleireiro elas podem fazer num quartinho lá de casa, agora comprar maquinaria e fazer como o Alberto Figueiredo da Impetus é que é pouco provável.
E o pior é que o Avelino, o Martins, o Figueiredo e muitos outros também sabem juntamente com o Presidente da Autarquia, com os Centros de Emprego, com os Ministros e muitos mais, que todos estes programas são apenas umas migalhas e que só quem tem estrutura montada e é de sucesso é que pode aceder e receber as tais linhas de financiamento.

Hoje lembrei-me do património

09/02/09

Ermelinda e as laranjas

Normalmente acontecia à hora das refeições e era inevitável que dava polémica. A minha mãe era uma defensora de Salazar, já o meu pai pertencia àquele grupo que viu alguma esperança na primavera Marcelista. Para a minha mãe Salazar era o salvador de todos os problemas dos quais ela muito bem se lembrava tendo nascido em 1922. A Salazar devíamos a ordem e o restabelecimento dos bons costumes e das finanças públicas, a proibição do escarro na via pública e da falta de calçado na rua e a renegeração do descalabro em que o país vivia. E por ali continuava contando as mais diversas histórias que eu e todos os portugueses filhos de mães como a minha conhecem. Já o meu pai, retorquía, imitava a voz fininha resmungava e chamava à baila o "botas". Para ele, há muito que "o botas" devia ter tido a cadeira milagrosa à mão. Ele, o meu pai, que havia nascido em 1926 e tinha tido apenas uns dias de liberdade democrática e liberal antes do reviralho. A coisa às vezes complicava-se, a minha mãe ficava ofegante, o meu pai troçava, contava as histórias de como o pai dele escondia os liberais no alçapão da chaminé da outrora casa da família na Rua de Sta Catarina e os levava pelos túneis que ligam a baixa portuense. Eu olhava divertida porque as coisas não pareciam bater umas com as outras, encantada com as histórias do meu pai, e já sabia que tudo terminaria no momento em que a minha mãe dissesse "Ó Ermelinda trás as laranjas e não te esqueças do arroz doce!".
Por isso, quando ontem assisti ao primeiro episódio da "A Vida Privada de Salazar" , tudo me pareceu uma aberração, até ao momento em que alguém disse "Ermelinda olha as laranjas" e gabou o arroz doce no jantar dos Perestrelos. Um pouco mais tarde perante o suor de todos nós, eis a cena da perna vestida de fato e dum sapato que ainda não era bota, mas que já travava a laranja que corria do quarto. Eu não pude deixar de dar mais uma gargalhada e de pensar o que diria a minha mãe se estivesse ali ao lado a ver um Salazar que de repente nos querem impingir sem orgulho ou preconceito.
Fotos: Internet, Correio da Manhã

Varzea de Ovelha e Aliviada

Uma vez fui a um baptizado numa capelinha na Várzea de Ovelha. E o que é que a terra não tem? Entre outras coisas uma alusão que se veja a Carmen Miranda, mas também não admira porque ali ela era a Maria do Carmo que um dia emigrou para não voltar. Se Belmiro de Azevedo tivesse feito o mesmo ninguém conhecia Marco de Canavezes e certamente Siza Vieira não tinha deixado lá a sua arquitectura. São coisas que acontecem, mas que nem por isso nos deixam aliviadas!

06/02/09

Dar à sola

Uma das principais características dos tempos é que em Portugal quando um português está apertado ou é dos sapatos ou é da saúde. O problema é idêntico porque se é do sapato o melhor é escolher com mais cuidado para a próxima, se é da saúde a questão pode ser de diferentes especialidades. Pode ser um assunto da medicina, pode ser da falta de dinheiro, pode ser do aborrecimento diário, pode ser da verborreia cerebral, pode ser do tédio que as notícias nos dão. Em todos estes exemplos existe uma solução muito simples e que dá pelo nome de "dar à sola". E neste caso, pode significar um fim de semana fora, pode ser emigrar, pode ser virar as costas, pode ser encontrar novas ideias, mas é sempre caminhar. E para caminhar nada como uns bons sapatos. Escolha e compre calçado nacional cá dentro, mesmo que tenha de ir a Paris, Londres ou Nova Iorque arejar. Bom fim de semana!

04/02/09

Um problema nacional

03/02/09

Peggy Sue (1958)


Buddy Holly Live in New York With Peggy Sue 1958

Foi a 3 de Fevereiro

De 1488 que Bartolomeu Dias desembarcou em Mossel Bay, na África do Sul, após ter dobrado o Cabo da Boa Esperança, tornando-se o primeiro europeu a fazê-lo.

Estátua, Cidado do Cabo

No mesmo dia do ano da graça de 1536 o espanhol Pedro de Mendoza funda a cidade de Buenos Aires chegando ao rio que se julgava mar e ao qual dá o nome de Rio de la Plata.

Avenida Corrientes, Buenos Aires

Mais tarde em 1809, nasce o compositor alemão Mendelssohn



No ano de 1898, nasce em Helsinquia, o arquitecto e artista Alvar Aalto, inspirador de uma nova escola de arquitectura e design.

A 3 de Fevereiro de 1959, morre o músico norte-americano Buddy Holly, influenciando diferentes grupos musicais, nomeadamente os Beatles.

Preocupada, eu?

Pergunto eu muito inocente se alguém sentiu alguém preocupado com o estado das coisas? Eu vi uma grande galhofeira por parte dos intervenientes do Prós e Contras, como se nada de novo houvesse a dizer. Não é verdade que já estamos habituados e que é essa a parte mais divertida do serviço público? Ou seja galhofar, contar anedotas e ter histórias picantes para divulgar? Antigamente os funerais eram o local ideal para contar anedotas, como agora são poucos os que frequentam esses lugares, então veja-se programas de televisão para animar. Dá-me ideia que isto é tudo uma grande palhaçada e um circo bem montado. Haja alegria!


Alegria Cirque du Soleil

02/02/09

Snowfall

Londres adormeceu ontem e acordou hoje com um nevão, escolas fechadas, aeroportos, transportes e comunicações num caos. Os Ingleses fecharam as portas da entrada e da saída. Por cá o vento continua forte, mas segundo as previsões passará em breve a ser apenas uma brisa marítima que vai e vem. O que até me lembra a conhecida frase "... aller et voltaire" e das nossas tempestada num copo de água.
Londres, Fevereiro 2009

A esperança dos portugueses

Os portugueses têm esperança que por pertencerem ao mundo civilizado, os crimes serão punidos, a economia melhorará, os políticos serão apreciados, os deputados admirados, a igreja louvada, os cidadãos ouvidos, os doentes atendidos, os marginais prendidos, as minorias libertadas e os bolsos recheados.
Os portugueses são uns poetas, mas são gente de bem, são descobridores apenas com o azar de estar muito afastados da terra e sempre perto do mar. E o mar foi, é, e será o nosso destino e a nossa epopeia. A ideia de Comunidade e União entre povos que pouco têm em comum, passou a ser um fraco destino. A ideia de salvação volta em força mas o problema é que não sabemos onde está o pescador que vem salvar a mulher adúltera, a República deixou-se levar pelos feitiços da democracia e está num beco sem saída. E não há música ou cantante que nos deixe a boca menos amarga e é pena! Recordemos outras épocas em que a esperança nos fazia pelo menos cantar e ouvir os poetas.


1966 - Luís Cília - "Canção final, canção de sempre
"Luís Cília canta a sua canção de 1964 e hino de resistência, com poema de Manuel Alegre.

01/02/09

A esperança - "the rescue"


In this legendary Gershwin opera set among the black residents of a fishing village in 1912 South Carolina, Bess - a woman with a disreputable history - tries to break free from her brutish lover Crown after he becomes wanted for murder. The only person willing to overlook her past and offer her shelter is the crippled Porgy. Their relationship is threatened by the disapproval of the townspeople, the presence of her old drug supplier Sportin' Life - and the threatened return of Crown.
"Porgy and Bess" Gershwin

Portugueses

Para o Rui A.

Alfred Hitchcock- The Birds

The Godfather