Há dias o
Avelino arreliado dizia que os centros de formação estavam a patrocinar cursos para cabeleireiras e que o país ia vender caracóis. Eu própria comentei aqui que o nosso homem de Guimarães tinha razão porque um salão de cabeleireiro se podia fazer num quartinho lá de casa. Ver o país dentro dum quartinho tem sido o problema nacional, praticamente, desde que existimos. Tirando pequenas referências históricas, sempre nos vimos pequenos, feios e atarracados, mesmo que alguns nos venham falar nos descobrimentos, da grandeza da nação e na pujança do passado. Escritores e artistas de várias áreas, sempre tivemos em quantidade e qualidade suficiente. É certo, que muitos não passaram do consumo interno, mas temos muitos que saíram do quartinho e voaram para outra dimensão. Souberam passar o testemunho da alma portuguesa e do ser português e deixaram obra e nome que não tem fronteiras. A nossa tragédia foi sempre ao nível do empreendedorismo. Aí temos falhado consecutivamente, não porque não saibamos fazer, mas porque temos a vista curta e a dimensão do mar não nos deixa alcançar outros lugares sem apanhar um transporte. Por terra sempre foi difícil e por mar parecendo mais fácil só levou a que uns partissem e outros ficassem na praia a aguardar a chegada dos primeiros. Porque nós voltamos sempre, às vezes até animados, mas não somos combativos. E não sabemos tirar partido do que vemos e não conseguimos por em prática por medo de falhar, por falta de ambição, por cautela à critica, por desconfiança. Apesar de regressados acabamos por ficar com uma mão à frente e outra atrás. A da frente tapando a miséria e a de trás protegendo o corpo que o diabo amassou e do qual não soubemos fugir. Nesta fase difícil, de recuperação económica das nações, em que os modelos de crescimento estão a ser repensados e a globalização a ser posta em causa, podíamos olhar e aprender com quem já sabe, tem garra e arrisca. E em vez de criticar o marketing das ideias fazê-lo crescer de acordo com as necessidades do momento. Nem o consumidor é demasiado racional nem o marketeer irracional, pelo contrário,
"a oportunidade está em mostrar ao consumidor racional que está a ser irracional (Seth Godin)" E também não há muito para descobrir, mas adaptar o que até aqui se entendia como global. Eu sei que é vira o disco e toca o mesmo para os da área, mas enquanto escolhemos a música e o aparelho, as variáveis invertem-se e quem sabe algo de novo aparece. Se não tentarmos ficamos na verdade a vender caracóis no quartinho de casa, enquanto podíamos ter o
ARROJO de fazer crescer o negócio numa dimensão local mas que já provou ser inovadora, mesmo que isto aqui não seja a América nem o país Nova Iorque.