31/03/08

Alzira

A primeira vez que a vi preparava-se para dar entrada no Hospital para mais uma das suas múltiplas cirurgias. A última vez que conversei com ela continuava igual a si própria. Altiva e próxima, simples e distante numa dualidade de sensações escondidas. A última vez que a vi, já cá não estava. Era a Alzira!

Já agora...

Já agora, alguém pensou que esta coisa de 50 mil PME, terem fechado portas em 2007, no meu Portugal, pode ter alguma coisa a ver com roubos, violências e ataques? Não digam que é apenas mais uma das nossas manias pessimistas de perseguição mediática.

Ver para Crer

Parece que os Observatórios não são suficientes. Segundo o Relatório de 2007 do Observatório de Segurança Escolar, "verificou-se um decréscimo de 36% das situações de violência registadas, face ao ano anterior". Com base nestes dados são desvalorizados os casos apresentados pelo Procurador Geral da República. Segundo declarações do PGR , ao Expresso deste fim de semana "há alguns alunos que levam para a escola armas de fogo e facas, existem agressões, roubos e venda de droga"
Foi preciso ver o caso do telemóvel para crer que estamos a precisar de reinventar a escola e de reinventar novos pais. Não sei se existe o Observatório da Reinvenção, mas que ele vai aparecer, vai!

28/03/08

O Filho da Costureira

Ele era amado por todos lá no bairro. Rapaz trabalhador muito cedo começou a visitar os prédios das senhoras e das meninas para entregar o "trabalho". O "trabalho" é aquilo que uma costureira faz. Vestidos, blusas, saias e casacos. As senhoras davam-lhe gorjetas e mandavam cumprimentos para a mãe. Às vezes também enviavam o envelope com o dinheiro, mas a maioria das vezes, "depois passavam lá por casa".
O filho da costureira era o Tó, também havia o rapaz que fazia as entregas da mercearia - o Zé Manel e o rapaz que no Natal trazia os perus para vender e no Verão os morangos de Sintra. Mas este era só o rapaz dos perus e dos morangos. Ás vezes o Tó via a rapariga que morava na cave. No dia em que percebeu que era a filha da porteira apresentou-se. O Tó pediu à mãe para fazer um vestido à sua amiga da cave do prédio das entregas.
A filha da porteira passou a ter vestidos cobiçados pelas meninas do andar de cima. O Tó e o Zé Manel são hoje engenheiros. Do rapaz dos perus ninguém sabe, talvez venda lápis e borracha às netas da porteira.

27/03/08

Formação Intrablogue

As mulheres que desdenham das outras mulheres por se acharem mais inteligentes e iguais aos homens, a curto prazo são apanhadas nas malhas masculinas fornecendo, voluntariamente, as informações ou os registos, que os homens, propositadamente, armadilharam para seu belo prazer. Estas inteligentes passaram a tourear ao sabor do "inteligente", e até se vestem de veludo se for necessário, ou de cabedal e chicote se eles o entenderem. Com o tempo, as mulheres armadas em homens são pessoas pouco respeitadas e rejeitadas, apesar de no início terem conseguido fazer "gato sapato", com aquelas que elas consideram umas galinhas e outras coisas tal.
Este mundo homem- mulher do qual as "gato sapato" não se libertam tem tudo a ver com as inteligentes, artistas de polichinelo com aspirações a estrelas de cinema. Como aspirantes, estas mulheres encarnam personagens que são o gosto do seu dia a dia. Personagens vitimas de extremos bipolares, elas roubam o intelecto de passagem e levam de passagem o animal escondido nas malhas da vestimenta - são as mulheres intrablogue. Elas saem e entram de blogue em blogue, fazem graça aqui, piada acolá, sempre iludidas pela sua sábia superioridade. Neste intrablogue elas são toureadas e terminam como as chocas a sair lentamente, pacificamente atrás do touro do momento.
E se o touro morre cansado da faena, as chocas continuam à espera do próximo touro, do vedetismo final e da obrigação de saírem à praça e serem as jóias da tourada seguinte. Sem elas, os touros não poderiam mostrar a sua superioridade e sem eles também elas, não podiam imaginar-se superiores às sua colegas de turma.

A filha da porteira

A filha da porteira chegou a doutora e os meninos dos andares de cima não acharam graça. Ela foi sempre a mais invejada pelos outros meninos e meninas, apesar deles não terem autorização para brincar com ela. Ela foi crescendo, ficou moça adolescente e eles não podiam sair com ela a não ser às escondidas. Elas, as meninas, também admiravam os vestidos que a mãe lhe fazia numa costureira ali perto.
A filha da porteira tinha um pátio para brincar, todas as noites subia as escadas de serviço do prédio e ajudava a recolher o lixo dos meninos e das meninas dos andares de cima. A filha da porteira não tinha nome era, no entanto, aos olhos dos outros a mais feliz.
Para além do pátio, ela vestia roupas ousadas, para além da recolha do lixo ela podia sair à noite e ela tinha namorados.
Um dia ela deixou o pátio, a recolha do lixo e passou a ter um nome. Foi no dia em que se sentou na Faculdade ao lado dos meninos João e António e das meninas Maria Luísa e Maria Inês. A filha da porteira deixou de ter graça e de ser cobiçada naquele preciso momento! Agora a filha da porteira comenta os escritos dos meninos do andar de cima, e como eles não sabem quem ela é, apreciam o seu estilo e pela primeira vez elogiam o seu carácter, a sua tenacidade, a sua destreza intelectual. A filha da porteira continua, sem eles saberem, a ser a mais cobiçada.
A filha da porteira que toda a vida ouviu as histórias contadas pelas criadas dos meninos e das meninas dos andares de cima, apenas utiliza o que sempre soube, mas sob a capa de figura de estilo, porque de outra forma faria figura de porteira. E isso, a filha da porteira nunca vai permitir que eles saibam. A filha da porteira, apesar de elogiada por todos, apenas é identificada pelo filho da costureira.

25/03/08

Marketing das Ideias no Público

Os temas que correm na blogosfera e que são muitas vezes notícias de notícias podem ter agora a oportunidade de serem transpostos para outra esfera e com outra audiência. Esta iniciativa vai segmentar temas e artigos para além de fomentar comentários mais rigorosos. O Público através desta ferramenta aumentará também o seu espectro de leitores, para além de por à disposição de quem escreve na blogosfera, um instrumento de marketing das ideias a custo zero. A cidadania pode agora mostrar o que vale!

Ainda o mesmo tema

A melhor publicidade que se pode fazer a uma escola é falar dela o tempo todo. Nesta caso a Escola Carolina Michaelis no Porto. Excelente escola, como tantas outras com mais ou menos violência instalada e a quem tenho de manifestar o meu apoio a todos os profissionais, desde professores a funcionários que têm tentado educar alunos ao longo dos anos.
Por outro lado, não fico surpreendida com aqueles que comentando esta história têm apresentado diferentes exemplos pessoais. Não admira que aqueles que dizem ter aprendido na escola da rua, lutando em bandos de garotos outrora inofensivos, tenham sido os que mais tarde na faculdade lutaram com polícias e bombeiros na brincadeira do agarra -foge. São igualmente estes, hoje professores de muitas escolas e universidades, intelectuais assumidos, que utilizam verborreia de homem da estiva ou camionista de pesados para debater ideias com as quais discordam. São também estes que servem de exemplo a outros adultos, igualmente a necessitar de melhor exemplos.
Num país assim, em que o exemplo do palavrão serve de desculpa para discordar de ideias e de graçola para quem os lê, não admira que estejam escolas, organismos e instituições num autêntico estado de sítio. Talvez, não fosse pior que o exemplo começasse exactamente aqui na blogosfera, sitio privilegiado para o marketing das ideias.

22/03/08

A praga da violência

A violência não se instalou no Porto, Lisboa ou em qualquer outra cidade de Portugal. A violência está instalada em todo o mundo. Um país pequeno relativiza os seus problemas até ao momento em que se dá conta que os fenómenos sociais também existem no seu interior. Se até aqui éramos capazes de segmentar agressores e tipos de violência, cada vez é mais complexo distinguirmos os agressores dos agredidos.
A sociedade portuguesa está a atravessar um dos processos negativos da globalização. Os jovens portugueses tornam-se iguais aos jovens britânicos ou americanos. Os pais portugueses regem-se por princípios igualmente idênticos e por modelos de educação baseados em excessos não de liberdade, mas de tolerância. Os pais têm medo dos filhos e os filhos não têm medo de quem deviam ter. Temos de aceitar que medo e respeito sempre andaram lado a lado e o importante é termos a capacidade para atribuir o devido peso a cada uma dessas variáveis.
Hoje é uma aluna que confronta uma professora fazendo-se passar por interprete do poder perante os colegas. Colegas que assistem, aplaudem e ficam à espera do final do espectáculo. A seguir é a mãe da aluna que tenta agredir os elementos do conselho directivo da escola a quem confiou a educação da filha. Mais adiante são rivais que invadem escolas alheias para reivindicarem poder. Logo à noite são outros que lutam nas esquinas das ruas e se batem à porta das discotecas e bares das cidades, com álcool e inconsciência pelo caminho.
A solução não é proibir os telemóveis aos alunos nas escolas. Qualquer dia estaremos a proibir os computadores, os televisores, os MP3, e sei lá que mais. Quando uma doença se instala num subgrupo, a solução não é matar essa população mas sim, fazer o diagnóstico e medicar controlando uns, curando e tratando outros. Este caso não é diferente de outros, apenas nos choca mais por termos medo de nos revermos ou de reconhecermos comportamentos de filhos que poderiam ser os nossos.

19/03/08

Recordando um pai num guião de entrevista

Quando, onde e qual foi o seu primeiro emprego?
1972, em Lisboa , um "part-time" na área de Importação e Exportação de uma empresa industrial.
No que consistiu?
Foram os primeiros passos no mundo do trabalho, podendo dar resposta a uma área em desenvolvimento numa empresa multinacional em Portugal. Tive a oportunidade de pôr em prática os conhecimentos aprendidos no curso Comercial e no Instituto Comercial de Lisboa.
Como é que o primeiro emprego influenciou a sua vida?
Deu possibilidade de poupar para férias e viagens e aprender a reconhecer o valor do dinheiro.
O primeiro emprego foi importante na sua evolução profissional? Como e porquê?
Pela inserção e aprendizagem do mundo dos negócios, na flexibilidade de funções e no rigor de uma empresa multinacional acabada de instalar em Portugal. Permitiu aprender a lidar com Comissões Reguladoras de Importação e Exportação, contactos com Alfandegários e Alfândegas, contactos com a banca e documentos burocráticos necessários. Possibilitou por em prática idiomas como o inglês e o francês.Todos os documentos tinham de ser enviados e dactilografados sem erros, em triplicado. Permitiu sujar as mãos com a tinta do papel químico, permitiu não ter peneiras em utilizar as camionetas de distribuição da empresa para entregar documentos até às 17 horas, sob pena de a mercadoria não ser despachada ou desalfandegada no dia seguinte. O primeiro emprego permitiu aprender a trabalhar em grupo, aprender a tirar fotocópias, atender telefones e fazer um café. Permitiu ultrapassar o impacto de ter de conviver com colegas operários, engenheiros, empresários e outros aspirantes a doutores. Permitiu fazer de mim uma profissional que não esquece a oportunidade de ter pertencido a uma empresa chefiada por um homem a quem os colaboradores chamavam JT, bem à americana. Este homem dava pelo nome de João e era meu pai.
Como economista e empresária, quer sugerir dez conselhos aos jovens principiantes no mercado de trabalho?
Entrar todos os dias como se fosse o primeiro.
Ouvir os conselhos e sugestões das chefias.
Estar atento aos colegas e superiores, avaliando as forças e fraquezas da envolvente.
Identificar os lideres dentro da organização.
Avaliar as forças e fraquezas do desempenho pessoal.
Aprender a sugerir projectos e áreas de interesse.
Apresentar soluções e desenvolver trabalho individual.
Desenvolver capacidades de integração em projectos novos.
Disponibilidade e envolvimento no trabalho de equipa.
Identificar e segmentar o posicionamento individual de progressão na carreira.
Fonte: Jornal de Empresa

Coisas "muito chatas"...

Houve uma época, em que de tempos a tempos, aparecia alguém mais ou menos conhecido que tinha umas coisas "muito chatas" para contar. Lembro-me até, de um apresentador de televisão que de partida para outro país, disse que quando voltasse muita coisa iria contar. Pois, voltou, entrou, saiu e nada! Ainda hoje, pelo menos eu, continuo à espera de ouvir o que, supostamente, ele tinha para comunicar.
Uma tia minha costumava dizer em momentos mais difíceis ou quando a conversa entrava por caminhos duvidosos " Eu depois conto-lhe". Morreu e pelo número de vezes que utilizou a expressão, deve ter deixado o equivalente a uma enciclopédia para contar pelo menos aos sobrinhos.
Vem isto, a propósito de também Daniel Bessa andar há anos para contar a educação no meu país. Através da sua habitual coluna no Expresso fiquei a saber que apesar de "não ter ido à manifestação e de ter 47 anos de actividade de ensino, e de achar que o sistema português necessita de uma ordem nova" vem perguntar o que devemos dizer aos alunos.
Essa é boa! Então, não devia ser exactamente ele que foi dirigente de associações, empresas e universidades, a dar a sua opinião sobre o ensino? Será que, precisamente ele, ainda não teve tempo em quase 50 anos de formar, não opinião mas avaliação para os professores? Ou será, porque o assunto é justamente o resultado de uma nova ordem da qual também ele fez parte?
Se eu fosse a minha tia era agora o momento de dizer: "Eu depois conto-lhe...".

17/03/08

Portugal à beira de um ataque de nervos

"Avaliar os pais é o passo lógico a adoptar depois da avaliação dos professores. O próximo Governo irá confrontar-se com um problema muito claro (como os políticos adoram afirmar) que vai resultar da análise aos resultados da avaliação dos professores. Quando os meninos chegam à escola já vêm embrutecidos por vários anos de deseducação parental, numa fase tão sensível da vida que se torna depois difícil de recuperar.Ora como os pais são os primeiros educadores, que sentido faria travar a avaliação do processo educativo à porta das escolas? É lógico que se vá às raízes do problema...." Joaquim
Como já por aqui disse há umas semanas, este é o ponto principal. Antes dos professores, os pais necessitam de ser avaliados. Também, José Madureira Pinto, mencionava há dias num jornal diário, que era necessário analisar a envolvente sociológica, com realidades muito distintas do passado. Crianças que chegam à escola, sabe-se lá como. Crianças e jovens cujos pais não têm capacidade para acompanhar o desenvolvimento escolar dos filhos, por falta de tempo, por falta de conhecimentos, por falta de condições socioeconomicas. Pais, que muitas vezes são eles próprios crianças. Pais desagregados, famílias separadas, jovens com realidades conhecidas dos professores, mas que tem feito jeito fazermos um olhar míope.
Este não é um assunto de professores e avaliações, este é um assunto de um país à beira de um ataque de nervos. No meio de tanta confusão ou olhamos para o essencial ou estamos perdidos. Só espero que em prole do bem comum não venha por aí outro "Observatório" da educação.

11/03/08

Observatórios em grande forma

Olhem só, dizia eu aqui há uns tempos que os portugueses gostavam de observar e que havia Observatórios para tudo. Mal sabia eu, que vinham mais uns tantos a caminho. No Público de 9 de Março, vejo uma pequena caixa disfarçada até porque o tema vinha a propósito. "Criminalidade: Observatório em Lisboa e no Porto" A notícia continuava falando da criminalidade juvenil nas áreas metropolitanas das duas cidades e concluía "a criminalidade vai ser avaliada por um observatório que começará a funcionar dentro de algumas semanas..." Pensei: muito bem, lá vamos nós observar.
Ontem, dia 10 de Março ao ler as notícias diárias no mesmo jornal, tomei conhecimento, agora já em tamanho maior porque o tema exige, da seguinte notícia::"Governo cria Observatório para a Emigração em Abril". Fiquei a saber que a partir de Abril e em parceria com o Instituo de Ciências Sociais vamos observar "a realidade da emigração portuguesa". Fiquei também a saber, que o Observatório vai "obter informação sobre a quantificação dos portugueses em cada país, mas também as motivações que os levaram um dia a sair ou a forma como se encontram ligados a Portugal".
Estou mais descansada, agora é que finalmente vamos saber por que é que os portugueses emigram. Curiosa, vou seguir atentamente os resultados dos dois grupos observadores. Ah, não percebi quanto tempo vão ter os Observatórios para observar, mas se for como a minha jóia anterior do desemprego, vamos ter muito tempo. Vai ser uma observação e pêras!

Menopausa à Portuguesa

De repente todos os canais de televisão desataram a apresentar o passado. Ele é sons de ontem, imagens do antes, palavras de poetas e artistas revivendo o antigamente. Das duas uma: ou estão todos a atravessar momentos difíceis ou este país está mesmo numa meno-andropausa pegada, que nem o Fernando Tordo e a Tourada conseguem animar.
Esta nostalgia da comparação não traz nada de bom. O antes do 25 de Abril representou para quem o viveu momentos importantes de crescimento, de conhecimento e acima de tudo de intervenção. Para os muito jovens que estavam cheios de energia, folêgo no peito e cabeça fervilhando ideias, foram tempos de aprendizagem. No entanto, quem viveu os anos 70 não deixava de ser ingénuo e muitas vezes míope.
Por muito que nos choque, não são os jovens de hoje que precisam de abrir os olhos, mas sim os de 50 anos. É que estes, continuam míopes, pacóvios e alcoviteiros como antigamente. Resta, portanto, a classe intelectual que antes, durante e depois de 74 já eram "os esclarecidos". A triste conclusão é que apenas os menopausicos e os andropausicos falam uns com os outros, em debates e programas de "esclarecidos para esclarecidos", brincando à cabra cega num fazer de conta que estamos todos a reflectir sobre o futuro do país a bem dos mais novos. Só que esta paisagem precisa de muita compensação hormonal para fazer efeito e dar resultado.

10/03/08

Jóias de Verónica Leonor para ver e usar

Em exposição na Cooperativa Árvore no Porto

brincos
anéis

colar

Jóias para ver e usar em todas as ocasiões. São lindas, originais e ficam bem a qualquer uma.

08/03/08

O Dia das Mulheres

O dia em que todas as mulheres eram filhas e todos os homens eram de alguém já lá vai. As mulheres, hoje, são variadas e os homens são "um figo". Mulheres para todos os gostos. Elas são simples para o ingénuo, boazonas para o espevitado, "boas como o milho" para o brejeiro, finas para o esperançoso, amigas para o porreiro, companheiras para o ainda comunista, colegas para o estudante, rivais para o profissional, gajas para os gajos em geral.
No entanto, elas continuam a ter aquele estatuto que os homens grandiosamente apelidam de Mulher, Mãe e Amante. Oficialmente a Mulher é elogiada por todos e por nenhuns, raramente pelo marido. A Mãe é enaltecida pelas suas capacidades de abnegação, dedicação e sacrifício, pela dádiva, pontualmente, pelos filhos. A Amante é apreciada mas escondida.
Conforme a ocasião os homens tinham as filhas verdadeiras, as mulheres - filhas, as filhas mulheres e as filhas dos outros. Hoje, os homens têm mulheres. Também, todos os homens eram de alguém, hoje as mulheres chamam-lhe "um figo". Eles são de todas e a mulher moderna não tem "o seu homem".
Para uma mulher ter o seu homem pertence ao passado, excepção feita à mulher do outro. Entre "o moço e o "homem" e a "mulher, menina e moça" muita água passou. A correr e a saltar as mulheres que eu conheço estão no tempo do meu país. Elas são independentes, elas são fortes, elas lutam por aquilo a que têm direito. E eu gosto delas assim. Parabéns, portanto, a todas as mulheres.

04/03/08

Debatendo o debate

Os debates são experiências interessantes porque todos partimos para ele com ideias feitas e prontos a intervir. Qualquer académico que se preze não tem dúvidas que poderá contribuir com as suas convicções para o debate do tema proposto. Assim, aceita mais uma vez participar neste ou naquele programa, nesta ou naquela conferência. Normalmente o exercício é uma pura perda de tempo, porque raramente o entrevistado consegue o pretendido, ou seja, passar a sua mensagem com convicção, calma e tranquilidade. E se na realidade o consegue, essa calma é imediatamente espicaçada pelo orientador do programa porque não está a cumprir o papel da sedução do ouvinte. O comunicador está a ser demasiado racional e a voz anda na mesma nota musical.
O debate da educação, da autoridade dos professores, das escolas e das universidades tem vindo a ser mais do que gritado, mas na verdade ninguém se entende. Se a escola fácil não prepara para a vida difícil como diz João Lobo Antunes, se não há receitas porque cada um vive as experiências de forma diferente como na doença, então também não será com a aventura da educação como diz António Câmara e com a aposta em formar exploradores nas universidades, que se deixam de formar empregados nas escolas portuguesas.
Pais e filhos na aventura da educação seria um dos temas mais apropriados para começar o debate. É que na verdade, a questão está nos valores passados de geração em geração, e nesse campo as jóias têm sido pequenas e o pechisbeque tem emergido às bateladas. Debater princípios e valores com quem não tem sido capaz de educar em casa, não é fácil mas é aí que se devem colocar as primeiras experiências. Experimentar antes de saber pode não ser uma boa ideia, mas ninguém consegue saber sem fazer. Agora, o que me parece é que temos passado o tempo a fazer de conta que sabemos, para acabarmos com frases filosofadas do "só sei que nada sei".
O que eu sei, é que não podemos gastar o nosso tempo, que é pouco, na tentativa de formar uma classe social culta e experiente que dê origem a processos de cidadania para a mesma pequena franja que sempre foi culta e experiente. O que eu sei, é que avaliar professores sem avaliar pais, dirigentes, políticos, empresas públicas e privadas, instituições em geral que formam uns, dão emprego a outros e constituem a sociedade, não nos deve levar a bom porto. Deve levar sim, ao que temos vindo a conhecer nos últimos anos, e essa realidade não é beleza nenhuma nem jóia de que me orgulhe particularmente.

Comunicadores da comunicação

Primeiro vêm os das ideias e há quem lhe chame idiotas. De seguida, aparecem os que copiam as ideias e que são os mentores. Mais adiante surgem os que admitem que não as têm e são os pobres de espírito. Logo a seguir temos os que estudam ideias e que são os investigadores. Aos investigadores chamam "lentes" e aos "caixa de óculos" sabichões. Os sabichões tornam-se em cientistas e logo a seguir aparecem as experiências. Agora as experiências dão lugar às análises e às conclusões.
Partindo do principio que a amostra se aceita com grau de confiança elevado e pequeno desvio-padrão, o sabichão transforma- se em sábio, o investigador num qualquer agente, o "lente" no "caixa de óculos", o verdadeiro no falso, o pobre de espírito no idiota e temos o verdadeiro comunicador da comunicação.
Resumindo, eu não percebi nada e você também não. Fica um conselho: para a próxima tenha juízo, desligue o televisor e vá dar "uma ganda bolta", que é como quem diz, vá à sua vidinha.

03/03/08

...joaninha voa, voa...

"...joaninha voa voa que o teu pai foi pr'a Lisboa..."
E joaninha voou! Joaninha voou para onde estava o mundo. Joaninha foi à procura da movida madrilena e no meio da multidão, ela irá encontrar o seu mundo. Outrora patinho feio, hoje cisne branco como o cristal, corpo franzino e olhos brilhantes de excitação, joaninha voa pelas ruas da cidade. Com a mente sem névoas ela voa para o seu primeiro emprego, para a sua segunda casa. Tal como das outras vezes, o ninho ficou mais leve porque joaninha voou.
Pelas ruas de Madrid, ela voa sentindo a liberdade no rosto, olhando as montras com belos vestidos, sapatos e jóias que um dia serão dela, comprados por ela, com o dinheiro ganho por ela. Joaninha mulher, vivendo os primeiros minutos de liberdade e os últimos de menina. Daqui a umas horas será o primeiro dia, o lugar está lá à sua espera, dela apenas alguns saberão coisas miúdas, sem consequência.
Logo à noite quando joaninha regressar a casa, os pés doridos e o pescoço cansado, cairá na cama com o peito cheio de felicidade e a satisfação de que amanhã novo dia virá. Entre o cair na cama e o adormecer joaninha vai lembrar-se de levar uns sapatos com salto mais baixo, uma camisola menos decotada e as unhas impecavelmente pintadas de cor de carmim. E com os olhos semi cerrados joaninha ouve a voz do seu papá lá longe em Lisboa, e adormece com um sorriso nos lábios.